Cinco Coisas que Você Precisa Saber Sobre a COP30 em Belém

Cinco Coisas que Você Precisa Saber Sobre a COP30 em Belém

No coração da Amazônia, conferência deve voltar a tratar a conservação florestal como eixo de mitigação das mudanças climáticas

30ª Conferência do Clima da ONU (COP30), que ocorrerá de 10 a 21 de novembro em Belém (PA), chega em um ponto de virada da governança climática. Pela primeira vez sediada na Amazônia, a COP reúne chefes de Estado, negociadores, empresas, cientistas e representantes de comunidades para rediscutir prioridades: financiamento climático com foco em resultados, integridade de créditos de carbono e o papel das soluções baseadas na natureza. O pano de fundo é claro: conter a perda de florestas tropicais é condição para qualquer trajetória crível de mitigação nesta década.

A seguir, confira cinco frentes que ajudam a entender a COP deste ano e descubra por que as decisões tomadas em Belém poderão redefinir o mercado e a política climática no curto prazo.

1) A COP da Amazônia: ciência, política e tempo de resposta

Realizar a COP30 em Belém significa aproximar a decisão política da realidade biofísica que sustenta o clima sul-americano. A Amazônia armazena enormes estoques de carbono e influencia regimes de chuva que sustentam agricultura e energia de boa parte do continente. A escolha do local deixa a mensagem de que conservar não é tema setorial: é segurança climática, hídrica e alimentar, perpassando diversos segmentos produtivos.

O Brasil chega com capital político para articular países tropicais e mostrar como a conservação pode gerar desenvolvimento quando combinada com governança e métricas. Para Jeronimo Roveda, diretor de Relações Institucionais da Carbonext, a Amazônia “não é apenas um palco diplomático; é o centro nervoso do equilíbrio climático, onde conservar significa preservar o tempo que ainda temos para agir”.

2) Financiamento climático: a proposta do TFFF em foco

Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é uma proposta de fundo de investimento global para recompensar financeiramente países que preservam suas florestas tropicais. Proposta pelo Brasil na COP28, a iniciativa pretende remunerar, de forma estável e previsível, países e comunidades que entregam conservação mensurada. Diferentemente de iniciativas episódicas, o desenho proposto mira pagamentos recorrentes atrelados a indicadores objetivos, reduzindo a volatilidade de recursos para quem efetivamente mantém a floresta em pé.

O debate em Belém deve girar em torno de três pontos práticos: como definir a linha de base de referência, como comprovar adicionalidade em territórios complexos e como repartir recursos entre governos, comunidades e projetos. Se houver clareza nesses mecanismos, o TFFF pode se tornar um eixo de financiamento por resultados, capaz de catalisar investimento privado e multilateral para áreas de alta pressão de desmatamento. O fundo será lançado oficialmente na COP30, já com um aporte de US$ 1 bilhão (equivalente a R$ 5,3 bilhões) do governo brasileiro.

3) REDD+: alicerce das soluções baseadas na natureza

O modelo REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) deve voltar ao centro da discussão climática porque entrega resultado imediato numa janela crítica. Enquanto as tecnologias de remoção demoram para escalar e têm um custo considerável, projetos florestais evitam emissões agora mesmo, protegem biodiversidade e geram renda em territórios vulneráveis. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem apontado que a natureza pode responder por uma fatia relevante da mitigação nesta década, o que desloca o foco para integridade, governança e monitoramento — e não para uma disputa entre conservação e restauração.

No Brasil, iniciativas auditadas já mostram essa combinação de impacto climático e social. Projetos REDD+ verificados e de integridade alta, como os desenvolvidos pela Carbonext, protegem mais de 6 milhões de hectares, beneficiam mais de 5 mil famílias e evitam milhares de toneladas de CO₂ por ano. Para Roveda, “o REDD+ é pragmatismo climático: organiza incentivos econômicos para manter a floresta em pé agora, sem substituir os projetos de reflorestamento (ARR) e de agricultura regenerativa (ALM). Pelo contrário: servem de base para que eles prosperem e, depois, também possam ser conservados”.

4) Integridade e “permanência”: o que muda com o Art. 6.4

As decisões de outubro do Órgão Supervisor do Artigo 6.4 mantiveram as soluções baseadas na natureza dentro do mecanismo de créditos do Acordo de Paris e reforçaram pilares como adicionalidade, vazamento e linhas de base conservadoras. Ao mesmo tempo, sinalizaram como lidar com “não permanência” — risco de reversão que, em projetos florestais, exige buffers, monitoramento e respostas proporcionais às realidades de cada metodologia.

O recado para o mercado é pragmático: calibrar regras para que projetos de alta integridade sejam viáveis operacionalmente. A integridade não se confere por rótulo metodológico, mas por evidências verificáveis. Esse equilíbrio é chave para destravar capital, especialmente para países do Sul Global, onde está a maior parte do potencial de mitigação via natureza.

5) O legado possível: liderança brasileira e coalizão tropical

A oportunidade de legado da COP30 está em consolidar uma coalizão de países tropicais ancorada em conservação, bioeconomia e financiamento por resultados. Isso significa conectar TFFF, mercados voluntário e mecanismos do Acordo de Paris a políticas públicas que reduzam risco regulatório e deem previsibilidade a quem investe em natureza.

Se Belém conseguir transformar discurso em critérios e cronogramas, a conferência será lembrada não apenas pelas promessas, mas pelas escolhas que viabilizaram escala com integridade. Como sintetiza Roveda, “o legado de Belém dependerá menos do volume de compromissos e mais de escolhas que preservem a base da nossa estabilidade: a floresta. Sem conservação agora, não há meta que se sustente.”

Deixe um comentário