Saneamento importa? Uma Análise da Relação entre Condições Sanitárias e COVID-19 nas Capitais Brasileiras.
Resumo
Este artigo analisa a relação entre o saneamento básico e a disseminação da COVID-19 nas capitais brasileiras. Para tanto, estima-se o Índice de Acesso ao Saneamento Básico pela redução das dimensões cobertura do saneamento e qualidade da gestão, obtidas por dados disponíveis no Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento. Em seguida, aferiu-se o nível de associação entre saneamento e taxas de incidência e mortalidade da doença em todas as capitais brasileiras entre março e setembro de 2020. Os resultados sugerem que Curitiba (0,824), Campo Grande (0,808) e Goiânia (0,794)
lideram o ranking de acesso ao saneamento básico. Além disso, as evidências apontam para uma correlação negativa entre saneamento e taxas de incidência e mortalidade por COVID-19. Contudo, a significância estatística das estimativas varia em função do tempo. Esses achados estão alinhados com a literatura internacional, que identifica o acesso ao saneamento como uma medida chave de profilaxia de doenças infecciosas.
Introdução
A COVID-19 reforçou a importância do acesso ao saneamento básico para a saúde pública (CARUSO & FREEMAN, 2020). Isso porque o fornecimento regular de água e a gestão de resíduos são essenciais para prevenir a disseminação de várias doenças infecciosas (WHO, 2020). Particularmente, no que se refere a essa doença, hábitos básicos de higiene pessoal, como lavar as mãos com água e sabão, são importantes medidas profiláticas (MUSHI & SHAO, 2020). Apesar da principal rota de transmissão do vírus ser o contato com aerossóis e gotículas respiratórias por meio do contato direto (FERRETTI et al., 2020) estudos recentes apontam que o mecanismo fecal-oral também pode atuar como um meio de difusão da doença (GU, HAN & WANG, 2020; GWENZI, 2020). Em algumas localidades, fragmentos de ácido ribonucleico (RNA) viral foram detectados em esgotos na mesma época em que os casos foram inicialmente relatados (PECCIA et al., 2020; PRADO et al., 2020).
Tecnicamente, a avaliação do impacto de fatores sanitários sobre a doença depende da mensuração de indicadores válidos e confiáveis, que incorporem variáveis de infraestrutura e gestão do sistema de saneamento básico. No Brasil, o Sistema Nacional de Informação Sobre Saneamento (SNIS) é a mais ampla e difundida base de dados sobre saneamento no Brasil. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também fornece importantes informações sobre o saneamento nos estados e municípios brasileiros. Internacionalmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulga estatísticas sobre os serviços de água, saneamento e higiene, denominados de WASH services, para todos os países. Por fim, o Environmental Performance Index (EPI), indicador de performance ambiental desenvolvido pela Universidade de Yale, também apresenta dimensões para água e saneamento. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é analisar a relação entre o acesso aos serviços de saneamento básico, aqui delimitado aos segmentos de água e esgoto, e a disseminação da COVID-19 nas capitais brasileiras. Metodologicamente, o desenho de pesquisa utiliza análise fatorial (AF) para estimar o Índice de Acesso ao Saneamento Básico (IASB). Depois disso, examina-se o nível de associação entre saneamento e taxas de incidência e mortalidade da doença no Brasil.
Autores: Demétrius Ferreira, Lucas Silva, Dalson Britto Figueiredo Filho