Mineração Urbana: Conceito em Voga na Indústria de Base Ganha Destaque como Solução para Promover a Economia Circular

Mineração Urbana: Conceito em Voga na Indústria de Base Ganha Destaque como Solução para Promover a Economia Circular

Prática de extração de recursos em resíduos pós-consumo contribui para reduzir descarte e aumentar aproveitamento de materiais provindos da natureza, segundo especialista

Popularizado no Brasil ao longo da última década, o conceito de “Mineração Urbana” corresponde à extração e à reciclagem de materiais de valor presentes em resíduos de características diversas. O processo, diferentemente da mineração tradicional que realiza a extração de recursos presentes no subsolo, faz uso de objetos resultantes da dinâmica de consumo, disponíveis em grandes quantidades em lixões, aterros e “ferros-velhos”. Anualmente, países do mundo todo descartam milhares de toneladas de itens, como celulares e geladeiras, com destino incerto e que geram um acúmulo de recursos com alta capacidade de reutilização pelo setor industrial e por outros segmentos, entre eles: ouro, prata, cobre, platina, alumínio, aço e terras raras, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM).

Neste cenário, a preocupação transnacional com o estabelecimento de modelos econômicos sustentáveis — a chamada “Economia Circular”, exposta em eventos internacionais como o Climate Week e o Fórum Econômico Mundial — tem feito com que o conceito de Mineração Urbana seja ventilado tanto pelo setor público quanto pelo setor privado do Brasil, tendo em vista que a reciclagem de resíduos eletrônicos para o reaproveitamento de materiais de alto valor agregado poderia render ao país mais de R$ 4 bilhões de reais por ano, conforme revelam dados do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM).

Lúcia Helena Xavier, pesquisadora titular do CETEM e membro da Comissão de Economia Circular da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM), explica que a recirculação de recursos na fase pós-consumo é capaz de gerar renda principalmente à Indústria de Base, ao contribuir para a minimização de gastos das empresas nos processos de adquirir e extrair recursos, além de possibilitar seguidas revendas de diversos elementos, já que os resíduos deixam de seguir rotas convencionais de descarte e passam a integrar um círculo fechado. 

“Segundo o conceito da gestão cíclica, que é incorporada pela estratégia da Economia Circular, estamos em fase de transição para uma economia que prioriza o uso e reuso de produtos e materiais e uma minimização dos impactos sobre a exploração dos recursos primários, bem como redução da escala de produção. Nesse mesmo sentido, a mineração urbana pressupõe uma proposta alternativa de obtenção dos recursos por meio do aproveitamento econômico de matéria-prima secundária. Segundo pesquisas recentes, o aumento da exploração e uso eficiente dos recursos pode reduzir em torno de 20% a necessidade de entrada de materiais virgens até 2030. Isso pode representar uma economia potencial de mais de 600 bilhões de euros na indústria europeia, por exemplo”, ressalta a pesquisadora em seu artigo Mineração Urbana de resíduos eletroeletrônicos, escrito em parceria com Fernando Lins. 

Conforme pontua a voluntária da ABM, a adoção de materiais provindos da Mineração Urbana em processos industriais responde à Economia Circular ao minimizar a necessidade de extração de recursos naturais e reduzir o acúmulo de resíduos. Sua implantação em larga escala no Brasil, no entanto, dependeria de tecnologia, investimento público e uma logística reversa eficaz. “Para tal, teremos de percorrer algumas curvas e pontes para que se ultrapasse a fronteira do conhecimento e a prática corresponda à teoria, bem como às expectativas”, salienta a pesquisadora.

Alvo de interesse de diversos setores da sociedade, a temática da Mineração Urbana, assim como outras pautas referentes à Economia Circular, é tema de debate periódico na Comissão Técnica de Economia Circular da ABM, além de embasar diversos trabalhos acadêmicos apresentados anualmente no Congresso de Economia Circular e Gestão Integrada, que integra o portfólio de eventos da ABM Week.

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