Microplásticos: Problema Ambiental ou Questão de Educação?

Microplásticos: Problema Ambiental ou Questão de Educação?

por Juliano Martins Barbosa

Os microplásticos são pequenos fragmentos de plástico, geralmente com menos de 5 mm de diâmetro, que se formam a partir de uma variedade de fontes e processos. Eles são classificados em duas categorias principais: primários, que são fabricados intencionalmente em tamanho reduzido, como microesferas usadas em cosméticos e produtos de higiene pessoal, além de microfibras que se desprendem de tecidos sintéticos durante a lavagem de roupas; e os secundários – originários da fragmentação de plásticos maiores, como garrafas, sacolas e redes de pesca, devido à exposição a fatores ambientais como luz solar, ondas e atrito. Esse processo de degradação física e química, gera degradação em sua estrutura polimérica, quebrando a cadeia em pedaços cada vez menores.

Resultados científicos e estudos sobre os Impactos dos Microplásticos na vida marinha, indicam que sua presença gera inúmeros eventos adversos nos oceanos, o que tem gerado uma preocupação crescente na população. Dente os efeitos, a ingestão de Microplásticos pelos organismos marinhos, incluindo peixes, moluscos e crustáceos, que confundem tais partículas com alimentos, causando uma série de problemas, como: obstruções digestivas, bloqueando o trato digestivo dos organismos, levando à redução na absorção de nutrientes essenciais e até à morte; falsa saciedade, resultando na redução da ingestão de alimentos verdadeiros e comprometendo a saúde e crescimento dos organismos; além do principal que são os efeitos tóxicos, pois os próprios plásticos contêm aditivos químicos, como plastificantes e retardantes de chama, que podem ser prejudiciais à saúde dos organismos marinhos.

Desta maneira, os impactos aos ecossistemas marinhos, podem gerar alterações na estrutura e função dos ecossistemas, pois sua presença pode afetar a composição das comunidades bentônicas (organismos que vivem no fundo do mar) e pelágicas (organismos que vivem na coluna de água), associado diretamente à biodiversidade e às interações ecológicas, resultando em mudanças nas funções dos ecossistemas, como a ciclagem de nutrientes e a produção primária. Também temos impacto em habitats críticos, pois podem se acumular em recifes de corais e manguezais, impactando negativamente esses ecossistemas vitais. Este problema não está contido somente num ecossistema, pois temos a transferência ao Longo da cadeia alimentar, em que os microplásticos ingeridos por pequenos organismos marinhos podem ser transferidos para predadores maiores, acumulando-se ao longo da cadeia alimentar. Esse processo de biomagnificação pode potencialmente afetar uma ampla gama de espécies, incluindo aquelas consumidas por humanos, aumentando a exposição a contaminantes químicos.

Assim, os impactos na humanidade são encontrados na economia pesqueira, podem afetar a saúde e a qualidade dos peixes e frutos do mar, incidindo negativamente na atividade da pesca. Comunidades que dependem da atividade como principal fonte de sustento podem enfrentar desafios econômicos devido à redução da qualidade e quantidade de recursos marinhos disponíveis, diretamente relacionada a segurança alimentar. Sua presença na cadeia alimentar marinha representa uma preocupação para nossa alimentação. A ingestão de peixes e frutos do mar contaminados pode levar à exposição a contaminantes químicos adsorvidos pelos microplásticos, com possíveis implicações para a saúde humana. O fator mais aparente é o turismo, pois a poluição pode afetar negativamente a atratividade de áreas turísticas costeiras. Praias e recifes de corais contaminados por plásticos podem resultar em uma diminuição no número de visitantes, impactando a economia local e as comunidades que dependem do turismo.

Dito isso e contextualizado este problema iminente, quais as medidas de mitigação podem ser tomadas? A mitigação dos impactos dos microplásticos nos oceanos envolve uma abordagem multifacetada, incluindo a prevenção de sua formação e a captura e remoção dessas partículas do meio ambiente. Quanto a prevenção da formação, hoje é claro que a redução no consumo de plásticos de uso único (descartáveis) e o aumento do uso de materiais alternativos biodegradáveis podem diminuir a quantidade de plásticos que se fragmentam em microplásticos. Mas isso não adiantará sem a melhoria na gestão de resíduos, com ações mais eficientes, incluindo a reciclagem e o descarte adequado de plásticos, que podem reduzir a quantidade de plásticos que acabam nos oceanos. Aqui existe um campo fértil para pesquisa e inúmeras oportunidades de emprego no futuro, principalmente para os Engenheiros de Materiais. Completando esta abordagem multifacetada, a regulamentação e adoção de políticas públicas, atrelada a educação e conscientização, podem educar o público sobre os impactos dos microplásticos e incentivar a adoção de práticas mais sustentáveis, como a redução do uso de plásticos de uso único e a participação em programas de reciclagem.

Mas e na atual situação, pensando no cenário atual, o que é possível fazer? Uma alternativa é começar pelo começo, que seria a limpeza de praias e oceanos, conduzidas por organizações governamentais, não governamentais e comunidades locais, que certamente podem ajudar na diminuição dos plásticos e microplásticos presentes nas zonas costeiras e reduzir a quantidade que se fragmenta e se dispersa no ambiente marinho. Mas e os microplásticos já formados? O caminho seria a captura e remoção de microplásticos, por meio de tecnologias de filtragem, principalmente pela aplicação de sistemas híbridos, como nanomembranas e/ou com atividade química, como os desenvolvidos pelo grupo de pesquisa do professor Thiago Canevari, que podem ajudar na remoção dessas partículas de águas residuais antes que alcancem os oceanos, incluindo sistemas de tratamento de águas residuais municipais. Esta linha de pesquisa também traz ótimas oportunidades futuras em estudos e desenvolvimento sobre métodos de remoção destas partículas dos ambientes e que podem levar a soluções inovadoras e eficazes, incluindo o desenvolvimento de materiais e tecnologias que possam capturar e degradar microplásticos sem causar danos adicionais aos ecossistemas.

Os microplásticos representam uma ameaça significativa aos ecossistemas marinhos e à saúde humana. Compreender a formação e os impactos desses contaminantes é crucial para desenvolver e implementar estratégias eficazes de mitigação. A combinação de esforços para reduzir a produção de plásticos, melhorar a gestão de resíduos, implementar regulamentações, aumentar a conscientização pública e desenvolver tecnologias de captura e remoção de microplásticos é essencial para proteger os oceanos e assegurar um futuro sustentável para as gerações futuras. Por fim, acredito que essa problemática não é uma questão de poluição e sim de educação!

*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie  

A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *